16 fevereiro 2008

A esfinge

Ofélia tem os cabelos tão pretos
como quando casou.
Teve nove filhos, sendo que
tirando um que é homossexual
e outro que mexe com drogas,
os outros vão levando no normal.
Só mudou o penteado e botou dentes.
Não perdeu a cintura, nem
aquele ar de ainda serei feliz,
inocente e malvada
na mesma medida que eu,
que insisto em entender
a vida de Ofélia e a minha.


Ainda hoje passou de calça comprida
a caminho da cidade.
Os manacás cheiravam
como se o mundo não fosse o que é.


Ora, direis. Ora digo eu. Ora, ora.
Não quero contar histórias,
porque história é excremento do tempo.
Queria dizer-lhes é que somos eternos,
eu, Ofélia e os manacás.

Adélia Prado

Um comentário:

Rose disse...

Adélia é maravilhosa!
Mulher, poeta e nossa: do Brasil!...
Riqueza que só descobre quem se debruça sobre seus versos, suas palavras, seu olhar sobre a vida nos seus ângulos mais simples e recônditos...
Beijo, Cátia!
Bom final de semana!
Rose.

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Só o pó!