É dia de chuva escorrendo pelas telhas, pelas calhas, pelos rostos, pelos guarda-chuvas, pelo meio fio de nós. Cabelos molhando as costas. Suor umedecendo a camisa. Gota deslizando na curva do pescoço ou na dobra inconsciente do joelho. Dia de pés molhados pelo piso brilhante, lago de nossos desencontros, tarde atravessando pontes, degraus para nossos tropeços e o sangue no joelho. Escorre. Vermelho nos olhos, água quente no nariz rosado, vertente do que nos habita. É dia de andar sobre a pele das águas, fazer ondas nos dedos, catar conchas do fundo, espumar de vontades secretas, salivar de fome, escorrer de medo. Umidade nas paredes. Vapores nas janelas. Lágrimas nas folhas de plátanos em desapegos de outono. É dia de lava antes de ser pedra, de asfalto antes da estrada, de vidro antes de. Distraídos lábios no vinho que escapa pelo queixo. É noite de derramar líquidos sobre os tecidos, alguma luz violentando frestas, sereno lubrificando a grama, cera da vela em esculturas gigantes. Tinta fresca na madrugada pelas paredes dos papéis. Línguas acariciando as costas dos selos. Traços feitos de pares em viagens de pistas molhadas. Espelho retrovisor, centro do jardim dos nossos olhos. Agora é concreto.
estirpe
estirpe
São Pedro só pode estar com o firme propósito de nos transformar em sapos...Nestas tardes, agradeço por terem inventado a poesia...
5 comentários:
Senti muito este texto.
São dias tristes em que temos de fazer um esforço
para inventar o sol no nosso olhar
beijo
que belo texto querida. e fico muito feliz de saber que minhas palavras te tocam de alguma forma...
obrigada pelas visitas de sempre...
e dias chuvosos são necessários, porque sem água nenhum solo é fertil.
beijo grande
O lirismo da chuva faz com que fiquemos transbordados pela inspiração.
Cadinho RoCo
Manda a chuvinha pra cá! Eu querooo!!! :)
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