20 outubro 2015

Gente que ama o que faz e deixa transparecer

Hoje eu recuperei uma bota, preta e com salto agulha pela qual tenho daqueles apegos que me acometem quando gosto de alguma coisa que me acompanhou em momentos bonitos da vida, eu sei que a prática do desapego  me faria muito bem e tenho exercitado, algumas vezes ainda é inevitável. Mas hoje,  foi grandiosamente válido ir atrás daquela  bota, que já me acompanha a  mais de uma década. E foi das mãos de um senhor que tem mais de setenta anos e com o qual eu conversaria uns três dias inteiros sem nunca ter visto na vida. Pessoa agradável de olhar doce e transbordando de simplicidade  e contentamento. Em poucos minutos me  contou todos os procedimentos e olhava para a bota como se   fosse uma obra de arte. Era possível perceber que verdadeiramente estava apaixonado por mais aquele trabalho. O lugar é simples e muito arrumado, todos os pares de calçados em fila arrumados e quando buscou seu caderno de anotações me deixou impressionada, era um caderno pequeno destes brochura com o mês do ano escrito na capa, o número dela era 600, que representava quantos calçados foram consertados neste ano até o mês, tinha o nome e foi ali que ele registrou um ok, no mês de julho. Homem organizado e com registro que tem letra desenhada e sabe exatamente onde buscar informações sobre cada um dos seu rebentos. 
Ser sapateiro é profissão de gente que cuida, que arruma, que recupera, que como este nasceu no século passado, quando preservar era valor.

Me disse que percebia que era um calçado bem cuidado e que nele eu devia aplicar uma pomada de vez em quando para conservá-lo . A sola ficou novinha e andará  comigo por muitos outros caminhos, eu seguirei lembrando que eles  foram consertados e que as pessoas consertam muitos e muitos sapatos em épocas de se descartar e jogar tudo fora e também vou levar comigo o sorriso das palavras que me disseram: Eu sou aposentado senhora, a quinze anos e continuo aqui trabalhando, cuidando  dos sapatos, porque eu gosto MUITO do que eu faço. 

Ah! Eu admiro tanto e me arrepio  com gente assim!


E a moça do jornal nacional...

O clima anda realmente desconcertado, talvez pra  combinar com o povo  que entra  em pane  quando as  chuvas  começam por aqui. Tudo fica mais frio, sem cor e triste.
Que setembro e outubro são meses  chuvosos faz anos que já sabemos, mas  infelizmente as águas não estão mais escoando como antigamente. Também é fato que não havia tanta mídia  e promoção da desgraça alheia  como hoje em dia. São muitos meteorologistas , com diplomas  e não... tem daqueles  que quando vêem as  formigas  correrem rápido pro formigueiro já tem gosto em anunciar enchentes. Um disse  que vai ter enchente sim, pequena , média ou grande... fica meio fácil de acertar assim. Tem radar meteorológico com tecnologia de outros mundos lá do outro lado do mar, onde a turma demora pra fazer manutenção. Defesa civil milionária que investe bastante, quase  como a cura da seca do nordeste. Enfim, notícias e mais notícias  que tem provocado uma intolerância enorme nas pessoas. Algumas delas  que convivem comigo também se achegam pra fazer suas reclamações. Em partes eu sei que eles tem razão , concordo me desculpo e tudo o que me toca, mas  quando passam do ponto eu chamo meus argumentos  e acabo dizendo o que  precisa ser informado: Senhor, o filho é seu apesar de.
O sol reapareceu, as águas baixaram  mas o "senhor do tempo"  avisa que esta  semana vai chover novamente e que não será pouco e que as águas vão subir novamente. Tem gente que nem saiu dos abrigos ainda. Eu lamento  e fico pensando que a composição de fatores climáticos, poluição, descaso, má gestão do dinheiro público, continuarão todos ali e nós seguimos esperando o fim dos tempos. Enquanto o nosso povo tiver ânimo para limpar, lavar, recomeçar e reconstruir talvez ele ainda não chegue. 

E a moça  do jornal nacional disse  que voltou  a chover no Rio Grande do Sul , quando chove lá amanhã  chove aqui e começa tudo novamente.

15 outubro 2015

Irmãos Karamazov

Dia do Professor

Maíra Cintra


" Se engana quem acha que riqueza e status atraem inveja. As pessoas invejam mesmo é o sorriso fácil, a luz própria, a felicidade sincera, a alegria. O que incomoda as pessoas são as amizades que o outro atrai, a boa energia que transmite, o brilho no olhar, a sinceridade espontânea, o amor verdadeiro, a positividade pela vida, a leveza no andar e a paz interior. Se engana quem acha que um corpo perfeito chama atenção, que beleza atrai, que várias curvas dão tesão. Nada disso tem valor se o que tem por dentro não se alimenta de coisas boas. Aliás, dinheiro nenhum paga o que gera a verdadeira inveja, porque a maior riqueza da vida se esconde na alma. "


Saramago

"Quantos anos tenho?
Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama intensa, ansiosa por consumir-se no fogo de uma paixão desejada. E outras vezes é uma ressaca de paz, como o entardecer em uma praia.
Quantos anos tenho? Não preciso de um número para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas, valem muito mais que isso...
O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!
O que importa é a idade que sinto. Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos. Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa? Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto..."
[José Saramago]


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Só o pó!