Ela é a dona das memórias afetivas mais lindas que uma tia pode despertar em uma sobrinha.
A sua casa foi destino desde muito pequena, nos domingos, nas férias e hoje ainda em todos os janeiros.
O rio que circunda as suas terras tem água mais limpinha e quente, só de olhar já lava a alma da gente.
A forma que nos recebe tem tanto amor, ela corre pra varanda e vai logo agradecendo por gente ter chegado. Faz com que a gente sinta que tinha que ir mais lá, tamanha alegria que sente.
A gastronomia daquela casa, não tem explicação de tão maravilhosa e tem aqueles agrados que ela faz questão de fazer com a comida preferida deste irmão, daquela sobrinha daquele afilhado. O seu risoto é famoso na região.
Gosta de fazer crochê e nos aniversários traz sempre um artesanato, como aquele tapete peludinho que fica aqui no meu lugar preferido da casa.
Sabe de todas as ervas medicinais e ajuda na pastoral da saúde, seu jardim é um misto de chás , verduras e flores.
Adora uma cacheta, mas tem que ser a dinheiro!
Faz visitas a todos os vizinhos em sua super bicicleta e pensa na escala antes do sono da beleza ao meio dia. Sempre leva, risos e algumas bolachas.
É uma dançarina e tanto, ela e o Calico não tem perdido muitas tardes dançantes.
Dizem que somos parecidas e não é só fisicamente, eu tenho um baita orgulho disto.
Ela é alegre, contagiante disposta e conta os melhores e mais engraçados "causos" do mundo. Na verdade ela transforma seus dilemas em comédias, tão logo consegue rir deles.
Talvez como tu, hoje eu já consiga falar sobre o pavor que senti nos últimos dias.
Foram duas consultas, na primeira atestaram labirintite, medicaram e mandaram de volta pra Serra.
Na segunda consulta um dia depois, um Acidente Vascular Cerebral e nenhum movimento no lado direito e nenhuma palavra, mudez total.
Talvez eu não devesse ter ido naquela primeira visita, seus olhos não me reconheceram, você estava ali, mas não estava mais, eu me desesperei, confesso!
Voltei chorando, sem parar.
Cheguei a pedir a DEUS pra que se fosse pra ficar assim, ele te levasse. Talvez eu leve um chingão quando você souber disto.
Na segunda visita você já buscava os vultos e me acendeu uma esperança tão grande de que tu pudesse me reconhecer, e NADA!
Eu preferi, não podendo ajudar de perto, me manter informada nos dias que se seguiram, todos os dias através de mensagens.
Eu já rezei tanto!
Eu sabia que tu e os teus precisavam de mim, mas eu não tive tanta força.
Tu tia, não combina com essa condição, não combina com doença, com dependência, com necessidade de ser tão cuidada, justo tu, porque tu? Que sempre cuidou tanto.
Na última sexta depois de pensar muito na fragilidade da vida, no quanto um dia ganhamos o mundo no outro podemos não estar mais ali, e no meu amor por você, me enchi de coragem e fui.
Assim que eu entrei no teu quarto, e a cena é pros fortes, eu percebi brilho nos teus olhos e a vibração ainda semi muda ao me ver.
Ufa!
Você está aqui e vai voltar e sei que tem força e teimosia suficiente pra viver e reaprender a falar.
Você queria lembrar meu nome sozinha, eu brinquei contigo:
- É a tua preferida ( Sei que tem gente que vai ficar com ciúmes disto)
E quando o tio falou a primeira sílaba, você completou meu nome e eu tive vontade de me ajoelhar e agradecer muito, muito, muito a DEUS.
Vai ser um processo longo, mas vai dar certo.
Eu estarei contigo e quero te contar que tu tens uma filha e um marido de ouro. Tu soubeste cativar e amar e cuidar pra hoje ser cuidada.
Não frouxe!
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