01 setembro 2014

POR  / 31 JUL 2014

Eram momentos de grande sofrimento, pois gastava 4 horas por dia, entre ir e vir da escola e mais adiante do trabalho. No total, foram mais de 5 anos percorrendo pelo menos 30 mil quilômetros. Usando a calculadora, essas 4 horas diárias também podem ser traduzidas em quase 1.000 horas por ano, ou seja, cerca de 40 dias por ano dentro de um transporte coletivo, lotado e presenciando muitos assaltos e as mais mirabolantes situações com as quais um morador da periferia aprende a conviver com naturalidade.
Como saía de casa antes das 6 da manhã, ainda escuro, tinha o hábito, dentro do ônibus, de pé e apertado no meio de dezenas de pessoas, de ficar observado através do reflexo no espelho, a fotografia de minha vida: um adolescente, amassado dentro de um coletivo, com uma mochila cheia de livros, de pé por duas horas, em direção à escola.
Do lado de fora, ao ver essa fotografia lamentável, mas que no entanto se tornou algo muito comum na rotina de milhões de pessoas nos principais centros urbanos brasileiros, que perspectiva mais relevante poderia ser atribuída a esse amontoado de gente amassada?
A memória de minha adolescência sempre me leva a essa minha antiga rotina. É disso que gosto de me lembrar, porque posso me conectar com minha essência, com o que sou, de onde vim e me lembrar de todas as vezes em que usava esse tempo para sonhar e planejar uma mudança de vida.
Mas minha principal razão para manter viva essa memória é preservar a certeza de que qualquer pessoa, por mais desqualificada ou vira-lata que pareça, um “da Silva” qualquer como eu, ou um suburbano sem classe como eu, ou um pobretão sem referencial como eu, ou um filho de gente simples e sem pedigree, pode transformar o caos numa realidade completamente diferente.
Se eu me esqueço de quem eu sou e de onde vim, imediatamente perco a autoridade de lhe dizer que você também é capaz de mudar sua realidade de vida. Basta não sucumbir ao coitadismo.

06 julho 2014

Muito obrigada!

...tantas são as coisas  que a gente ouve  em um velório, quantas sensações e emoções, muitos momentos da vida para relembrar e passar  a limpo, tanto mais quando se passa  o dia e a noite inteirinha  ... Eu sempre procuro repensar o ritmo da vida.
A pessoa  da qual nos despedimos é exemplo de  LUTA , veio ao mundo para construir uma grande família, dezesseis  filhos, netos, bisnetos, tataranetos. Antes mesmo que a doença a acometesse  totalmente, conseguiu dar testemunho de vida e persistência. Foi uma Fênix! Lutou até o último instante e mesmo que dizia  a muito tempo estar pronta para partir, deixou evidente que ainda queria ficar.
É  fato que a missão da vida já deve ter sido cumprida aos  92 anos, mas a  gente sente, lembra, rememora e vai ficar com saudades! A gente nunca quer se despedir, mesmo sabendo que isto é inevitável!
Mas o que realmente fez minhas lágrimas  rolarem incontidas, foi ver  a dor estampada em vários rostos, mas em UM em especial, um que pra mim é o exemplo de dedicação e doação, daquela  que tem o nome de MARIA, que dedicou a vida  a uma causa, que teve  coragem de ser filha e mãe, e isso não por nenhum outro motivo além de AMOR. Sim este é amor incondicional, com vivências, diferentes de alguns  compostos somente por palavras... amor, daqueles  que cuidam, amam e se dedicam no sentido real da palavra, zelando por   todas as necessidades físicas, emocionais, espirituais.
Se existe alguém que eu admiro de coração é você  e o exemplo que destes, estando sempre junto e incansavelmente dedicando tua vida  a uma causa de amor.
Visitas, ligações, algumas presenças tem seu valor, até acredito que a sua forma cada um tentou fazer, e quem não o fez terá tempo para se arrepender, mas estar TODOS os santos dias e noites  de muitos anos e especialmente dos últimos  doze anos de vida, ali, presente, esta  foi TU  e somente Tu! Tenha orgulho disto e a certeza do dever cumprido!
Por isso e muito mais, o meu respeito e a minha admiração, conte sempre  comigo eu só tenho  a agradecer pelo tanto que você me ensinou a  ser filha, e se um dia eu precisar ser mãe  da minha mãe é de Ti que eu me lembrarei.
Te amo, abençoada MARIA, que DEUS conforte teu coração. se todos os nossos  sofrem  com a partida, e eles sofrem, eu sei que nenhum de nós sofre  como você.
Vou rezar muito, muito mesmo, para que a dor que você  sente se  transforme apenas em saudade e certeza do reencontro.
Conte sempre  comigo, estarei sempre aqui pra te abraçar e cuidar de ti!


...

Uma mulher quer paz. Uma mulher quer ler mais, viajar mais, conhecer mais. Uma mulher quer flores. Quer beijos. Quer se sentir viva.
Martha Medeiros

01 julho 2014

Das coisas que eu penso

São tantas...nossa...
Algumas  eu digo e sempre aos  verdadeiros interessados.
Tem delas que me saltam  a boca  e eu não controlo,as  que necessitam sair.
Para verbalizar algumas  eu não tenho tido tempo, diferente das que eu não  posso expressar.
Mas  o que eu realmente gosto e de não precisar  dizer. 

Daquelas identificações  onde  basta  um olhar e já está dito

que arrepia...

30 junho 2014

Escutatória

Em dias  assim mal da tempo de respirar, pulei o almoço e acabei emendando  o terceiro round sem janta. E inacreditável  como as  pessoas  estão carentes, debilitadas emocionalmente, precisando conversar, contar, reclamar, lamentar, dizer. Hoje teve gente que eu precisei ouvir, sabe a tal escutatória, ouvi até a exaustão, desconectei inclusive  e fiquei ali de corpo presente. 
Os homens também precisam falar, ainda que em casa permaneçam  sérios, calados , também tem suas  coisas e um deles hoje, sem dizer textualmente,me implorou ajuda, eu tentei, acho que amanhã bem cedo conseguirei.

Uma delas falou muito, não queria ouvir nada apenas desabafar, foi assim que me disse. E aquela com a filha internada que recém saiu da UTI, nossa é necessário um escudo, pra não abraçar aquela mãe e chorar  com ela, esta queria ouvir palavras de esperança.
Atendi um vendedor, dois!
Hoje, uma  comissão deliberou apenas  com a razão, e eu  os ouvi, votei, e saí com a certeza que devíamos ter pincelado gotas de  emoção.
Mas  também teve gente que eu senti agradecer as minhas intervenções, minha função profissional permite que eu auxilie pelo simples fato de  dizer o que penso e reafirmar algumas práticas.
PROMETO não me esquecer nunca do peso e valor que algumas pessoas  dão as minhas palavras.
Sorte que a noite sempre me serviu  como recarregador de baterias.


P.s  Há, hoje eu esqueci de ouvir meus pensamentos, que andam tão loucos e agitados.
P.s 2 - Bem que poderiam  vir em  dias  alternados

29 junho 2014

coisas de domingo a noite...

...eita, tanta  coisas, sempre um turbilhão de emoções na minha vida.
Parece  que é  de propósito mas as  coisas  acontecem de uma vez  só, e a vida tem me exigido decisões, SEMPRE!
Mas uma coisa é fato, quando minhas emoções estão a flor da pele  a primeira  coisa  que me ocorre  é escrever...
... e eu amo pessoas e situações  que me despertam este desejo.
O que é escrito geralmente  fica eternizado...

As unhas  estão azuis,o jogo  com o Chile quase me provocou um enfarto, tem copa do mundo no Brasil, um inverno que está meio encruado, os casacos e sobretudos   andam todos no guarda-roupa, as   chuvas estão castigando meu povo, muita água deslizando pelo alto vale. O trabalho está uma loucura, o esforço pra motivar a equipe é tremendo e isso me faz  pulsar. 
São tantas coisas evidentes e outras  subliminares, detalhes de uma história  antiga que eu venho sempre  construindo. Com muito ou pouca aproximação.

E hoje... duas taças de  vinho e uma sensação boa de gratidão,promessa  que arrepia, traz emoção  e um aparente resgate da  "vida"! Muito mais  VIDA!
Eu sou grata  pelas  novas  oportunidades  que a vida me  oferece!




31 maio 2014

Chega uma hora na vida em que, de tanto querer, a gente não quer mais. Não quer mais a vida feito vulcão em ebulição, não quer mais viver em busca; quer a paz do caminho sem tantos abismos, quer menos curvas e mais atalhos.
Não quer mais o que faz perder o sono, o que desconforta o pensamento. Não quer mais aventura nem risco, só a emoção do que pega leve, do que abre o sorriso lentamente, do que não parte às pressas, nem deixa marcas profundas e sangrentas.
Chega uma hora na vida em que ou fazemos a opção por nós mesmos ou morremos extenuados sempre à procura do que nunca encontraremos.

Aíla Sampaio




Charles Bukowski

há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?



Charles Bukowski
(in Textos autobiográficos, de Charles Bukowski, páginas 478/9. Tradução de Pedro Gonzaga. Porto Alegre, L&PM Editores, 2009).

21 maio 2014

Transbordando

 Educar meninas  e meninos  é um dos  principais  motivos para o qual eu vim a este mundo,  visto que  tendo a certeza  que não foi para  cozinhar, muito menos  para passar roupas, chego   a ter certeza   que também  vim  com a missão de   ouvir  as pessoas, saber dos   problemas delas não me abismar  com eles  nem permitir  que eles  me sufoquem. 

Ah, mas hoje  eu  solicito em  bom tom, venham me ver  um de cada vez, por favor, aguardem, não extrapolem, eu também tenho bordas  e hoje elas estão transbordando!

14 maio 2014

Podemos?

"De uma coisa podemos ter certeza: de nada adianta querer apressar as coisas. Tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto. Mas a natureza humana não é muito paciente.
Temos pressa em tudo! Aí acontecem os atropelos do destino, aquela situação que você mesmo provoca, por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. Mas alguém poderia dizer: - Mas qual é esse tempo certo? Bom, basta observar os sinais.
Geralmente quando alguma coisa está para acontecer ou chegar até sua vida, Pequenas manifestações do cotidiano, enviarão sinais indicando o caminho certo. Pode ser a palavra de um amigo, um texto lido, uma observação qualquer.
Mas com certeza, o sincronismo se encarregará de colocar você no lugar certo, na hora certa, no momento certo, diante da situação ou da pessoa certa! Basta você acreditar que nada acontece por acaso! E talvez seja por isso que você esteja agora lendo essas linhas. Tente observar melhor o que está a sua volta.
Com certeza alguns desses sinais já estão por perto, e você nem os notou ainda. Lembre-se que o universo, sempre conspira a seu favor, quando você possui um objetivo claro e uma disponibilidade de crescimento."
 Joanna de Ângelis

A menina que



 mora em mim por vezes me visita para dar uma olhada na minha realidade. Em algumas dessas vezes sorri de boca inteira como se se olhasse em um espelho. Outras, me encara com estranheza e arrepio. É quando estou longe do caminho das flores.
A menina que mora em mim me acorda a noite. E de manhã continua no berço como se nada tivesse acontecido. É ela que guarda o meu tesouro no seu colo de criança: esperança e fé. E é por isso que quando me perco dela, ela corre de novo pelo caminho, catando as flores dos quintais e as derrama todas em cima de mim.
Esse é o seu jeito de dizer: Acorda, mulher! Volta pro seu jardim.
Miryan Lucy

08 maio 2014

A Majestade, O Sabiá Composição: Roberta Miranda


Meus pensamentos
Tomam formas e viajo
Vou prá onde Deus quiser
Um vídeo-tape que
Dentro de mim retrata
Todo o meu inconsciente
De maneira natural...

Ah! Ah! Ah!
Tô indo agora
Pr'um lugar todinho meu
Quero uma rede preguiçosa
Prá deitar
Em minha volta sinfonia
De pardais
Cantando para
A Majestade O Sabiá!
A Majestade O Sabiá!...

Tô indo agora tomar
Banho de cascata
Quero adentrar nas matas
Onde Oxossi é o Deus
Aqui eu vejo plantas lindas
E selvagens
Todas me dando passagem
Perfumando o corpo meu...

Ah! Ah! Ah!
Tô indo agora
Pr'um lugar todinho meu
Quero uma rede preguiçosa
Prá deitar
Em minha volta sinfonia
De pardais
Cantando para
A Majestade O Sabiá!
A Majestade O Sabiá!...

Esta viagem dentro de mim
Foi tão linda
Vou voltar a realidade
Prá este mundo de Deus
Pois o meu eu
Este tão desconhecido
Jamais serei traído
Este mundo sou eu...

Ah! Ah! Ah!
Tô indo agora
Pr'um lugar todinho meu
Quero uma rede preguiçosa
Prá deitar
Em minha volta sinfonia
De pardais
Cantando para
A Majestade O Sabiá!
A Majestade O Sabiá!...(3x)


Palavras-chave: a majestade o sabiá , Jair Rodrigues , canja , música , clipe 

Jair  Rodrigues - 1939-2014

Vídeo,

04 maio 2014

Destas vontades absurdas!

...Vontade de  voltar  ao verão.
 De  beber  vinho  e cantar  até de manhã.
 De  soltar os bichos, TODOS!

Vontade  de  seguir  conselho:
" de  colocar o mundo no MUDO e  escutar só o coração!"

Somos, infinitamente SOMOS!


01 maio 2014

Hoje está ventando!

...o vento depois da chuva limpa o céu  e devolve o azul, da  tonalidade mais linda  que se possa  ver. Eu amo os ventos que vem depois das  chuvas, ainda que neste mês  do ano eles tragam frio.
Penso sempre  que eles  expressam a forma  que encaro a vida, pois  o que não tem remédio, remediado está. Se  chegou o fim era  pra terminar, se estava escuro eles trazem claridade, novos ares, novas ideias. Somente quem se desprende  das  nuvens escuras conseguem observar a claridade  do sol.  Lamento  pelos  que não  permitem que o vento passe em suas  vidas, perdem certamente um tempo sagrado de viver  em paz.
Também é pertinente  pensar  que algumas  coisas precisam ir embora no meio de um vendaval e outras... ah!  outras  ficarão sempre  e para SEMPRE presentes com a devida intensidade  que dedicamos a elas.



04 março 2014

Falecimento anunciado!

Meu not  dá  ares de  que vai falecer.
Tem seus  seis anos de lida  diária, ele realmente é muito  utilizado. E se morresse hoje já teria cumprido sua missão.
Desapegos e substituições  tecnológicas, eu  sofro dos  dois problemas. Mania  de considerar  que  o que é meu precisa durar  pra sempre, isso inclui amizades,trabalhos, livros, bolsas, sapatos, lugares, cheiros  e tanto o mais... Também me preocupa absurdamente  a rapidez  com que as pessoas  trocam tudo, substituem, jogam no lixo, vejo as tecnologias em perfeito estado se   tornando obsoletas pelo simples fato de  substituírem no mercado  por outra  com mais velocidade, ou seria  o consumismo? Ou o desejo de ter o que é melhor e mais potente? É, acho que faço parte de uma geração que  gosta  do cuidado, dos  consertos, dos reparos, que estabelece uma relação de apego e de  valor as coisas  que tem e suou pra conquistar. Será isso  bom? Será fruto de uma geração? Será  por ter nascido aqui  e na família no contexto histórico em que me constituí? Vai  saber... O que tenho certeza é  que sofro com despedidas, me dói abrir mão das minhas  coisas, me machuca perder pessoas  que amo. Sorte não ser assim com ideias, por sorte consigo quebrar paradigmas  com mais facilidade  do que dou fim em minhas meias  velhas.
Prevendo  o falecimento  anunciado estou tratando de salvar tudo que posso. Função de dias e dias. Dentro de um notebook  tem parte da vida acadêmica, tem frases,imagens, músicas poesias, textos  e afins. Mas, o que primeiro eu resolvi salvar, acometida pela  síndrome de que "amanhã ele pode não ligar mais" foram as minhas  fotografias. Que são milhares, milhares mesmo de verdade, tem centenas de cada evento, de cada encontro, de cada  viagem , de cada almoço de família. E carregando todas  no "oneDrive" criei um ritual de observá-las carregando e concomitantemente ir apagando em sua pasta de origem, para poder observar bem, ver todos os detalhes, detectar  minúcias outrora não vistas. Elas me parecem tão mais bonitas, puxa,(!) quantos lugares maravilhosos os meus olhos já viram...Quantas pessoas fantásticas eu já tive o prazer de retratar.  E neste exercício tenho lembrado de tantas passagens, tenho despertado tantas impressões e sensações que me fazem  me amar mais e amar  mais a fotografia. Elas eternizam momentos, elas acordam emoções! 

E eu, sigo com o firme  propósito de fazer aquele curso e sair pelo mundo livre e solta clicando aqui, ali e acolá, para ter pra sempre o que lembrar e salvar e reobservar.

03 março 2014

Ai, que bom estar aqui!

Diferente do que sou, ando  meio  quieta...
Meio  triste, e bem cansada.
Não tenho tirado tempo pra mim, nem  para o básico.
Nas últimas  manhãs  todas,  tenho nascido antes do sol, e desligando o celular depois de já estar  a  tempo no trabalho.
TRABALHO! E mais trabalho, como é difícil emplacar ritmo a uma equipe.
Chego  a me perguntar  se realmente  um dia  emplacaremos.
É tempo de  pisar no freio. De  refletir  sobre a direção, de analisar o combustível... E de uma forma  que antes  nunca  foi.
Presumo que  uma das coisas  que me falta é  a escrita. Dentre tantas  outras  que me sobram.
Estou tanto  tempo longe de mim.
Assim sem muita reflexão, vivendo na correria, trabalhando mais  do que nunca.
Colocando por terra  todas as promessas  de  final de ano.
Quando eu escrevo, ainda que seja sem público, plateia ou leitores, eu me reavalio, eu repenso as minhas  coisas, eu me encontro, consigo escolher o trilho em que quero deslizar.

E não  que a vida  esteja ruim, muito menos  que eu não seja absolutamente  grata  por tudo que tem me acontecido.
Sensação boa de sentir os dedos deslizando no teclado e trazendo a tona algumas  coisas  que ninguém mais entenderia.
Promessa  reafirmada de  voltar aqui, todo santo dia.




"Eu só peço que este carinho que eu recebo diariamente aumente mais a minha responsabilidade  do que a minha vaidade."
Marcos Caruso

23 fevereiro 2014


Por Não Estarem Distraídos – Clarice Lispector


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
Clarice Lispector )
(do livro A Descoberta do mundo: crônicas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 508)

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Só o pó!