16 novembro 2019

Felicitações 4

A vida é tua grande amiga, minha querida irmã!

Se tu faz 48 eu já sei que não tenho mais 15 anos. E não! Não estou começando este texto querendo dizer que você é tão mais velha do que eu. Até porque isso é um fato que não pode ser contestado. Estou brincando! Também não é exatamente por conta da soma dos anos que te escrevo agora. É porque quero mesmo te dizer que os teus acontecimentos sempre marcaram a minha vida. Por isso, fica impossível não fazer a comparação. E a primeira imagem que me ocorre é da sensação que tive quando você foi pedida em noivado. Era domingo. Eu estava brincando na caixa de areia ao lado da garagem – uma atitude infantil demais para a idade que eu já tinha - e ouvi, sem jamais alguém imaginar que eu estava ali, a conversa que o Marcos teve com o pai. Foi tão engraçado. Vocês estavam tão nervosos que até eu fiquei com uma espécie de vergonha. O meu coração quase saltou na boca quando pensei que tu iria casar. Porque parecia que isso era uma coisa de gente muito grande. Se tu crescia, eu também crescia. Quando eu era pequena, tu era a minha referência de gente grande. De certa forma, achava que seria igual a ti. Nunca consegui. E sei que nem adianta tentar. Foi apenas com o passar dos anos que nós duas nos tornamos duas mulheres com idades que às vezes até se parecem. E por falar em idade, este é o primeiro ano em que o teu aniversário não cai num feriado. Pelo menos para mim. Parece que não combina.  Aí deve estar quente. Tomara que tenha sol. Sei que o dia inteiro está livre para ser apenas teu. Para quem quiser chegar. Já sei que vai terminar com muita comida saborosa sobre a mesa - com que sorte - com vinho, cantoria e gente querida na volta. Porque essa é a tua energia. A alegria é a tua companheira que não pifa. Daqui, desse outro lado do mundo, com esse frio que insiste em dizer que o outono daqui é o mesmo que o inverno daí, com tanto mar entre a gente, estou pensando em ti desde que abri os olhos nesta manhã. Porque sei que hoje é o teu dia e que estou ausente. Não é o mesmo que estar distante. Ausente é um pouco mais grave. É porque nós duas sabemos que as coisas que ando buscando com tanta intensidade não fazem muito sentido pra ti. O meu silêncio tem apenas este motivo. O teu silêncio é ainda mais surpreendente. Ele me avisa que mesmo sem compreender, tu me respeita e ampara. Como sempre fez. Sinto o teu apoio irrestrito apesar de enxergamos o mundo de forma tão distinta. Tenho tantas coisas para dizer, mas você é a minha irmã mais velha. É mais difícil, sabia? Contigo, aprendo mais do que ensino. Desde sempre. Por isso, vou apenas te falar como estou me sentindo agora. É diferente pensar em alguém que a gente ama quando estamos longe fisicamente. Porque é como se a memória de repente se tornasse a nossa chancela. Tentei lembrar de ti hoje e sentir tudo o que significa ser tua irmã mais nova. E antes que você imagine que eu descambei a fazer poesias delirantes, lembrei, vai saber por que, do quarto que tinhas na Rua São Paulo. Tantas vezes entrei nele e imaginei como seria quando eu crescesse. Achava o teu guarda-roupa de cerejeira com penteadeira embutida a coisa mais moderna do planeta. Achava aquela tua calça xadrez (que batia nas tuas canelas) uma peça indescritível de tão linda. Assim como aquelas camisetas vermelha e amarela (sei que tu vai saber quais são) com saia jeans o look ideal para ser uma pessoa mega bem resolvida e bonita. É claro que eu queria ser como tu. Ainda mais porque sempre tinha bala soft entre as tuas coisas. Muitos batons, perfumes, brincos, colares e anéis. Nada que seja diferente de hoje, diga-se. Sempre foi um verdadeiro arsenal. Apesar disso, nunca fui como tu. Em quase nada. E por você ser exemplo, a comparação continua inevitável. É só por isso que falo. Eu choro de alegria. Tu ri até quando dói. Isso não nos define, mas explica muita coisa entre nós. Não tenho tanta facilidade para ser feliz deste jeito escancarado que tu tens. Tenho falado pouco ao longo da vida do quanto você é importante pra mim. Talvez agora seja a hora. Por isso preciso ficar longe de vez em quando. Reconheço que sempre fui muito cuidada por ti. E isso me comove. É um cuidado velado, mas muito profundo. Um carinho que me auxilia a não sair do meu trilho. Essa proteção sempre te fez agir na hora certa. E muitas vezes sem que eu precisasse pedir ou sequer compreender que realmente precisava da tua ajuda. Mas teu auxílio sempre foi fundamental. Tu sempre esteve comigo nas horas em que mais precisei e talvez nunca consiga te retribuir por tanto. A tua praticidade acentua o meu sentimentalismo. É tão engraçado. Mas também quero aproveitar para dizer outra coisa. É difícil lembrar agora em que acabo de me sentar num café no norte de Portugal, da expressão do teu rosto quando nos despedimos antes da minha vinda. Fingi que não vi a tua emoção, mas saí da tua casa chorando. Exatamente como faço agora. Naquele dia, sem que a gente precisasse dizer alguma coisa, sabíamos que eu iria voar para muito longe. Por tempo indeterminado. Nós sabemos que somos feitas de matérias muito diferentes. Tu gosta de ficar, mas eu não consigo permanecer por muito tempo, porque sou feita de uma coisa que é de ir. Mesmo que o convite seja a tua varanda. Com a tua conversa e chimarrão. Mesmo quando ainda sabemos que o por do sol visto da tua varanda é o mais bonito de todo o Alto Vale. Mesmo que chegar à tua casa seja um pouco estar na extensão daquilo que a gente espera sentir na casa de uma mãe. Mas sei que tu também sabe que este é o meu modo de estar na vida. Agora, neste momento, estou totalmente e inteiramente contigo. E é por isso que quero ainda deixar escrito que admiro muito a tua força. Acho que essa ainda é a coisa que mais gosto em ti. Mais ainda do que da alegria. Porque tu já fez muita gente levantar e seguir apenas com o teu exemplo. Porque tu é feita de uma engrenagem que põe gente e máquinas a funcionar. Neste sentido, é você a filha que mais parece com a nossa mãe. E que bom que alguém herdou com tanta precisão esta qualidade dela. O mundo precisa de gente com esta valentia. A educação do nosso querido Brasil, também. O teu amor pela educação me engasga. Ele me faz confiar na vida. Por falar em diferenças e semelhanças, quando alguém nos confunde por conta de sermos tão parecidas fisicamente, sempre tenho orgulho em dizer que sou tua irmã. Encho a boca para dizer. E sempre digo que você é uma figura. Porque você é uma grande figura. Destas difíceis de uma cidade esquecer. Destas difíceis de uma, duas, três... gerações de estudantes e professores esquecer. Tu ainda é a mãe da Claudia. Que grande oportunidade de sentir amor ser tia da Causely. Como é bom poder dizer que ela herdou as minhas loucuras. E sentir alívio que tu existe para que ela tenha sempre o melhor choque de realidade possível para não ser apenas tão sonhadora quanto eu sou aos teus olhos. Sabe, não seria quem sou se você não fosse a minha irmã mais velha e se você não fosse exatamente quem é. E se você ainda não tivesse me dado a grande chance de cuidar da Claudia quando ela ainda era uma menininha que nem sabia caminhar e falar. Sabe, acho lindo que a gente enxergue o mundo de um jeito tão diferente e se ame tanto mesmo assim. Porque aprendemos juntas. Queria muito estar aí agora pra dar bastante risada contigo e com todos os teus convidados que logo começarão a chegar. Quero que sintas que estou aí, da melhor forma que posso, que é desejando que continues. Apenas que continues a ser quem és. Eu sou feita dessa coisa que abraça de longe, mas sei que tu sabe que essa é uma forma de eu estar. Porque sempre estarei conectada com essa nossa ligação profunda e inexplicável. Porque é um conforto saber que sou cuidada por ti sem que tu precises me dizer palavra alguma. Porque vou publicar este texto mesmo que ele não seja exatamente bonito. É difícil fazer poesia para você. Mas é indispensável dizer que parte do que sou devo a ti. E isso é mesmo difícil de explicar. E realmente acho que é desnecessário querer dizer mais. Continua. Apenas não te canse de ser quem és. Agora, se me permites, vou me despedir de ti para poder explicar ao garçom que acabou de me servir um café - que aqui se chama meia de leite - que estou bem. Que essas lágrimas que em vão tento secar não são necessariamente de tristeza. Eu realmente choro muito quando estou feliz. Vou dizer pra ele que tu faz aniversário e é para ti que escrevo. Vou falar que tens a risada mais parecida com a gargalhada da vó. Que tu adora dizer que tens a “brabeza” da Tia Maria e o “bom humor” da Tia Lete. Que tu adora explicar que as tuas raízes te explicam. Mesmo que seja em vão querer que alguém entenda como é feita essa fibra que tens para atravessar teus dias. Pra ele, não vou dizer mais do que isso, mas faço questão de frisar que tu adora ser considerada prática, mas que no fundo tens o coração do tamanho do mundo. Minha querida mana veia do fundo da Serra, que o teu caminho sempre te faça sentido. Porque tu merece receber em dobro toda a disposição que tens para com a vida. Ah a vida! Claro, a vida é essa tua grande amiga. E como é que poderia ser diferente? Assim como ela, também eu sou tua grande fã. Feliz aniversário! E obrigada. Muitíssimo obrigada!

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